Birra: encontre a emoção por trás do comportamento e resolva o problem
top of page

Birra: encontre a emoção por trás do comportamento e resolva o problema de forma efetiva


Do ponto de vista da Disciplina Positiva, por trás de uma crise de “birra”, há uma necessidade não atendida que precisa ser acolhida; há uma frustração. Quando uma criança se arremessa ao chão, grita, chora desesperadamente, ela está se utilizando dessa “linguagem” (muitas vezes, a única de que dispõe no momento) para dizer que algo não está bem e, cabe ao adulto, observar o que a incomoda para agir diretamente na causa.

Como lidar com um ataque de birra?

A primeira informação importante é que ceder a ele não é uma opção inteligente, porque na hora pode até surtir efeito, na medida em que isso atende a uma necessidade imediata. Mas, o que de verdade você está ensinando à criança com esse gesto? Que os desejos dela podem ser atendidos se ela se comportar dessa maneira sempre que for contrariada. Quando o adulto cede uma vez, ela grava a informação e, numa próxima, se quiser resistir, você verá que o ataque irá piorar (porque ela se dá conta de que o recurso usado antes não teve o efeito esperado): “Eu posso fazer o que precisar para funcionar: murro, grito, etc…”

Se ela carrega a crença de que para ser amada, importante, precisa ter os desejos satisfeitos pelos adultos, vai usar esse comportamento como uma estratégia. Cair nessa sua armadilha, não vai solucionar o problema. Você pode resolver na hora, mas a probabilidade é que ela repita o comportamento e, a cada vez, ambicione mais coisas. Pode passar pela cabeça dela: só sou amado, só faço parte dessa família/sou importante, se as pessoas me derem aquilo que eu quero. Tudo o que eu quero: um doce depois do almoço, um brinquedo depois da lição… vai chegar o dia em que ela só vai passar no vestibular se ganhar um carro. Não é mesmo?

 
 

Outra atitude que costumamos ter, muitas vezes, é a de gritar, bater, surtar junto com a criança. Tudo bem, é do ser humano. Trata-se de um movimento impulsivo, mas também não é uma opção inteligente. Porque a criança aprende a fazer o mesmo. Quando grita, você ensina a ela que essa é a forma de resolver conflitos (quem grita mais, “vence”).

No livro Disciplina Positiva, de Jane Nelsen, há uma frase ótima, que é: “De onde nós tiramos a ideia absurda de que para uma criança se comportar melhor, agir melhor, antes ela precisa se sentir pior?”. Isso é uma loucura! A gente acredita que se ela foi indisciplinada, precisa pagar pelo que fez, afinal é a única forma dela aprender. Mas, de verdade, se ela se sentir mal, você acha mesmo que vai mudar o comportamento? Para ela se comportar melhor, claramente, ela precisa se sentir melhor. É difícil entender que punição não funciona. A Disciplina Positiva não é sobre punição, castigos. Mas também não é sobre prêmios e recompensas.

Colocando-se no lugar da criança

Uma dica, então, para esse tipo de situação, é ser empático. Colocar-se no lugar da criança é entrar no mundo dela: Por que será que está tendo esse ataque? O que aconteceu antes? Será que ela está frustrada, irritada, queria continuar uma atividade que foi interrompida? Isso acontece bastante: Imagine que você está vendo o seu programa de TV favorito e, de repente, alguém desliga o aparelho. Como se sente? Quantas vezes não fazemos isso no meio de alguma brincadeira?

A forma dela se expressar é, muitas vezes, por meio desses comportamentos desafiadores. É a maneira que tem de dizer que está frustrada e, principalmente, que não sabe lidar com o que sente. Por isso, um bom caminho é o de olhar com uma certa distância, perceber qual a necessidade por trás daquilo. A criança está cansada, irritada, com sono, com fome, com insegurança, com saudade, com medo? São tantas as possibilidades! Quando a gente percebe isso, conseguimos antecipar situações. Esta é uma forma de ser gentil, um dos pilares da Disciplina Positiva: essa abordagem propõe gentileza e firmeza ao mesmo tempo.

Você pode começar com esta postura, validando o sentimento da criança e não fazendo o contrário (o que geralmente acontece). Não diga: “Não sinta raiva” ou “Não fique triste”. Tudo bem sentir isso. São sentimentos normais, inerentes ao ser humano, fazem parte da nossa vida. Mais importantes do que esses sentimentos, é o que vamos fazer com eles. E se as crianças nem sabem ainda nomeá-los, que dirá lidar com o que sentem!

Procure ser empático com a criança, dizendo:

– “Olha, tudo bem se sentir assim. É normal se sentir assim. Todo mundo se sente assim nessa situação. Eu mesmo já me senti assim quando aconteceu isso comigo…”

– “Eu estou aqui para te ajudar. Podemos pensar juntos numa solução.”

– “Como eu posso te ajudar?”

– Eu te amo! Vamos esperar você se acalmar. Vamos esperar isso passar…”.

Dê, também, o exemplo inteiro: “Eu sei que você queria o brinquedo. Eu também gostaria de ter esse brinquedo. Talvez eu também me sentisse assim no seu lugar, mas, agora, não dá para comprá-lo”.

Com isso, você não está validando e concordando com o comportamento da criança (o ataque), mas está buscando o que há por detrás da crença, atrás do comportamento desafiador e ensinará a ela importantes habilidades de vida, como: paciência, autocontrole, autogestão. Estará ensinando a essa criança a valiosa arte de se acalmar.

Muitas vezes, falta uma confiança nossa no sentido de achar que os pequenos não são capazes de lidar com esses sentimentos, sobretudo os de frustração. Mas, cada vez que queremos mimá-los demais, fazendo por eles o que são capazes de dar conta sozinhos; todas as vezes em que os resgatamos de situações onde haveria a experiência da frustração, achando que estamos ajudando, protegendo – na verdade – os impedimos de crescer e se desenvolver.

É lógico que queremos que sejam felizes o tempo todo, mas essa não é a realidade. Por isso, é fundamental que – desde a mais tenra idade – as crianças possam lidar, de uma forma empática, respeitosa, com os seus sentimentos. Elas precisam passar pela experiência para se fortalecer e desenvolver a resiliência, a autonomia, a capacidade. Por isso, é fundamental que reflitamos sobre a nossa forma de lidar com esses comportamentos desafiadores e, se preciso, endireitar as nossas ações no caminho respeitoso e acolhedor da empatia, que valida os sentimentos dos pequenos.

bottom of page