Entrevista Revista NR IntercâmbioBete P. Rodrigues Bete P Rodrigues
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Entrevista Revista NR Intercâmbio


Leia a entrevista completa com Bete P. Rodrigues para a Revista NR Intercâmbio.

APRENDENDO NA PRÁTICA

Começo todos os cursos de Disciplina Positiva para mães e pais pedindo que listem quais são as características e habilidades de vida que querem que seus filhos desenvolvam na vida adulta. Interessante observar que as listas não são muito diferentes umas das outras, seja qual for o grupo com o qual faço essa atividade. É comum ouvir as seguintes respostas: responsabilidade, cooperação, autodisciplina, que saibam resolver problemas, autonomia, autoestima, preocupação com os outros e tantas outras. Como pais e mães, é fácil esquecermos que só existe UM jeito dos filhos aprenderem habilidades de vida: na prática! Isso significa que se queremos desenvolver responsabilidade, cooperação, habilidades de resolução de problemas, resiliência, autodisciplina etc, nós precisamos aproveitar cada oportunidade possível para que eles possam desenvolvê-las todos os dias.

As crianças precisam de muita prática para aprender a ler e escrever corretamente. Por que seria diferente com essas habilidades? Elas não se aprendem “por mágica” e de um dia para o outro- é na necessidade e prática de resolver problemas que ficamos bom em resolvê-los, por exemplo. A Drª Jane Nelsen nos lembra que “ Os pais não estão realmente pensando nos efeitos em longo prazo quando tiram de seus filhos a oportunidade de praticar valiosas habilidades de vida só porque eles, pais, podem fazê-lo melhor e com mais facilidade e rapidez.” A Disciplina Positiva nos ajuda a perceber o quanto nós, pais e mães muitas vezes “mimamos” nossos filhos em demasia e por vários motivos: - porque acreditamos que é a melhor maneira de demonstrar nosso amor- fazendo coisas para eles e por eles; - porque muitas vezes é mais fácil fazer POR eles do que COM eles; - porque não queremos que nossos filhos sofram, passem por frustrações ou tristezas; - porque é tudo muito corrido e não dá tempo de fazer as coisas no ritmo deles - é mais rápido nós adultos fazermos e pronto!

- porque achamos que é o que “bons pais” fazem; - porque é o que a sociedade (amigos e família) esperam dos bons pais e mães. Afinal, “esse mundo é tão cruel lá fora, precisamos protegê-los e deixá--los aproveitar o jeito fácil e prazeroso” agora.

Não precisamos esperar que nossos filhos cresçam para que se sintam capazes de fazer coisas sozinhos talvez seja tarde demais porque o tempo todo as crianças estão formando crenças a respeito de si mesmas e do mundo que as cerca. Se não se sentirem capazes com frequência porque sempre tem um adulto vestindo, alimentando, guardando seus brinquedos, ajudando nas tarefas ou com higiene e alimentação, estamos na verdade alimentando a crença de que dependem sempre de alguém que faça coisas por eles e que eles não conseguem fazer sozinhos. Eles só acreditarão que são capazes e se sentirão empoderados quando puderem aprender e praticar cada habilidade. Isso vale para tudo: desde alimentar-se sozinho a falar uma língua estrangeira é imprescindível treinamento e prática.

Uma excelente oportunidade para praticar habilidades de vida é proporcionar situações nas quais os filhos, distantes dos pais, precisem resolver pequenos problemas. Alguns exemplos são: permitir que os filhos durmam na casa dos amigos, frequentem acampamentos de férias ou ainda passem pela rica experiência de fazer intercâmbio e estudar fora do país. Os jovens que passam pela necessidade de “se virar” aprendem a lidar com dificuldades, frustrações, e desenvolvem autoconfiança, responsabilidade, senso de autovalor. Importante lembrar que nenhuma dessas experiências deve ser imposta aos filhos e sim combinadas, acordadas, se possível com planejamento e organização para que seja realmente muito proveitosa.

Vamos permitir que nossos filhos aprendam com seus erros e pratiquem habilidades de vida em vez de mimar, superproteger e pensar apenas nos resultados de curto prazo? Ao demonstrarmos que confiamos neles (e na educação que demos a eles), eles se sentirão mais confiantes e encorajados a fazer coisas com mais autonomia e responsabilidade.Ajuda lembrar do que Dreikurs nos ensinou:”Nunca faça algo por uma criança que ela possa fazer sozinha.”

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